Turismo Espacial

Quem não adora uma excelente viagem? As benesses transcendem o limite de sua imaginação. Muito além do que um passeio longe de casa, deslocar-se sem o propósito de trabalhar, experimentar novas coisas, uma viagem com o fim de entretenimento lhe proporciona o aumento da sua inteligência social ao encontrar novas culturas, redução de stress, tornando-o mais saudável. Agora, imagina uma viagem para fora deste mundo, ter a oportunidade de experienciar a gravidade aproximada à zero, de um lado o sol cintilante sem a camada de ozono, do outro, o escuro apavorante e as estrelas. É uma sensação que pessoalmente gostaria de experimentar um dia.

Os primeiros passos

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em Setembro de 1945 [1], sobre o perfil da Guerra Fria e diante da escalada competição entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS), o homem teve uma ansiedade saudável, desafiando a gravidade com a ascensão dos foguetes, bem depois da criação dos programas espaciais ambiciosos, soviético e americano na década dos anos 50. Um dos primeiros sinais de que um dia o homem faria turismo espacial foi dado pelos soviéticos, satisfazendo a espectativa com o envio do primeiro homem ao espaço Yuri Gagarin a 12 de Abril de 1961 [2].

Apesar dos diferentes sistemas político-económicos, as duas grandes nações tiveram boas iniciativas, desde o fabrico de satélites até a experimentação de envios de naves espaciais com animais e robôs. Ambas contribuíram para o mundo começar a pensar em viagens comerciais ao espaço. Quem nessa direcção foi muito bem-sucedida, foi a URSS com o seu programa InterCosmos, em Abril de 1967, concebido para ajudar os aliados da União Soviética com missões espaciais tripuladas e não tripuladas [3]. Os EUA também desenvolveram um programa espacial denominado Apollo, que permitiu o homem aterrar na Lua em Julho de 1969 com a nave Apollo11 [4].

Casas no espaço cósmico

Na década de 70, a URSS concentrou os seus esforços na construção de moradias espaciais, isto é, estações espaciais orbitais. A partir de Abril de 1971, a URSS lançou 6 estações espaciais, algumas não foram bem-sucedidas, sendo que o módulo último do programa, zvezda (do russo – zvezda significa estrela) tornou-se o núcleo do segmento russo da Estação Espacial Internacional (EEI) e permanece em órbita até aos dias de hoje [5].

Em Julho de 1975, a URSS e os EUA apertaram as mãos no espaço, através da primeira missão espacial internacional tripulada Apollo-Soyuz. Milhares de pessoas assistiram pela televisão a ancoragem de duas naves espaciais, acreditando que aquele aperto de mão foi o símbolo para assinalar o fim da corrida espacial. A partilha de experiência de engenharia entre as duas superpotências, foi útil para os futuros programas em conjunto Shuttle-Mir e Estação Espacial Internacional (EEI) [6].

Figura 1: concepção de um artista de 1973 sobre a ancoragem das duas naves espaciais apoll-soyuz(fonte-wikipedia)

No período de 1986 a 2001, a URSS e depois a Rússia operou a primeira Estação Espacial Modular MIR (do russo MIR – paz ou mundo). Montada em órbita baixa. A estação continha um laboratório de pesquisa de microgravidade e efectuou algumas experiências em biologia, física, astronomia e meteorologia. A estação foi desorbitada, em Março de 2001, custando 4.2 biliões de dólares. [7]

Em 1984, por iniciativa dos EUA, propôs – se a construção de uma estação permanente, sustentada e regulamentada entre governos, através das agências espaciais: NASA (EUA), Roscosmos (Rússia), JAXA (Japão), ESA (Europa) e CSA (Canadá). A estação contém 6 módulos russos e 11 módulos Norte-americano partilhados com as outras nações [8].

Preços e o nicho económico

A tecnologia complexa, o monopólio governamental, preparação técnica e os preços altíssimos para voar no espaço fizeram com que as empresas como a NASA, ROSCOMOS e ESA quase não pensassem em voar com pessoas que não fossem astronautas (EUA) ou cosmonauta (Rússia). Uma crescente curiosidade foi apresentada pelos bilionários, essencialmente nos EUA, fazendo com que surja um nicho no turismo espacial. Três grandes empresas norte-americanas entram na corrida, nomeadamente: Blue Origins, Virgin Galactic e mais tarde a SpaceX (propósito inicial de voar à Marte). Com diferentes modalidades de acesso e vendas dos acentos às naves, a Blue Origin, por exemplo, vendeu um acento por $28 milhões em uma viagem que efectuou, em Julho de 2021. O preço do acento na nave SpaceShipTwo da Virgin Galactic ronda os $250.000 [9], enquanto a EspaceX cobra $55 milhões por cadeira [10].

Com o aparecimento de novas empresas no sector, por exemplo, a AxiomSpace, que pretende construir uma Estação Espacial Internacional Comercial, a concorrência vai sendo maior, e a redução dos preços será uma consequência. Somos apologistas do crescimento deste novo ramo espacial, para que muitos possam apreciar a beleza do universo.

 Referências:

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundial
  2. https://en.wikipedia.org/wiki/Space_Race
  3. https://en.wikipedia.org/wiki/Interkosmos
  4. https://pt.wikipedia.org/wiki/Apollo_11
  5. https://en.wikipedia.org/wiki/Salyut_programme
  6. https://en.wikipedia.org/wiki/Apollo%E2%80%93Soyuz
  7. https://en.wikipedia.org/wiki/Mir
  8. https://en.wikipedia.org/wiki/International_Space_Station
  9. https://www.nytimes.com/2021/10/13/science/space/blue-origin-ticket-cost.html
  10. https://www.businessinsider.com/ticket-spacex-blue-origin-price-cost-space-tourists-pay-2021-7

Autor: Hugo do Nascimento

Mestre em Serviços e Aplicações Espaciais, pelo Instituto ISAE-SUPAERO, França.

Mestre em Sistemas de Telecomunicações e Multicanais, pela universidade RSREU, Rússia.

Departamento de Estudos e Mercados