Copernicus – O Programa Europeu de Observação da Terra

O Programa Copernicus, também conhecido como Programa Europeu de Observação da Terra, é uma iniciativa liderada pela União Europeia (UE) e pela Agência Espacial Europeia (ESA) que visa fornecer dados e informações sobre a Terra para uma ampla gama de usuários em todo o mundo. No contexto africano, o Programa Copernicus desempenha um papel fundamental por meio do Programa GMES and Africa, uma parceria entre a UE e a União Africana para promover o uso dos dados de observação da Terra para o desenvolvimento sustentável do continente. 

Neste artigo de opinião, exploraremos a importância, o impacto e os benefícios do Programa Copernicus para impulsionar o progresso socioeconómico e ambiental no mundo e em África em particular.

Mas afinal, o que vem a ser o Programa Copernicus?

Tendo completado a 8 de Junho de 2023 o seu 25.º aniversário, o Programa Copernicus, anteriormente conhecido como Programa de Monitorização Global do Ambiente e da Segurança (GMES), é o mais ambicioso e exitoso Programa de Observação da Terra já implementado no mundo. Ele fornece dados e informações sobre a superfície terrestre, os oceanos e a atmosfera, para apoiar a elaboração de políticas ambientais e de segurança, bem como para apoiar a gestão das zonas urbanas, o planeamento regional e local, a agricultura, a silvicultura, a pesca, a saúde, os transportes, o combate às alterações climáticas, o desenvolvimento sustentável, a protecção civil e o turismo.

Quais são as grandes componentes do programa Copernicus?

As principais componentes do programa são:

Segmento Espacial

O Segmento Espacial é a parte do Programa Copernicus responsável pela aquisição de dados e informações por meio de um conjunto de satélites de Observação da Terra. O Programa utiliza dados de cerca de 30 satélites que incluem os satélites da constelação Sentinel, o Sentinel-1, Sentinel-2, Sentinel-3, Sentinel-4, Sentinel-5 e Sentinel-6 que foram desenvolvidos para atender às necessidades específicas do Programa bem como satélites de missões contributivas europeias e de empresas privadas, onde se destacam o Plêiades, Spot, Planetscope, Radarsat, ICEYE, Worldview 1,2 e 3.

 Segmento Terrestre

É neste segmento dentro do Programa onde é realizado o processamento, armazenamento, distribuição e análise dos dados colectados pelos satélites Sentinel e outras fontes de Observação da Terra. Isso inclui uma infra-estrutura complexa de centros de dados, centros de processamento e centros de serviços distribuídos em toda a Europa. Esses centros são responsáveis pelo processamento dos dados brutos recebidos dos satélites e pela transformação desses dados em informações práticas e produtos relevantes para os usuários finais.

O segmento terrestre também envolve a colaboração com parceiros locais, nacionais e internacionais para a colecta e integração de dados terrestres complementares, como estações meteorológicas, redes de monitoramento e dados colectados por instituições e especialistas. Esse componente de dados in situ é essencial para a entrega de serviços de informação de alta qualidade, confiáveis ​​e sustentáveis.

Serviços Copernicus

O programa oferece uma ampla variedade de serviços para atender às necessidades de monitoramento e informações sobre o ambiente, o clima e a segurança. Esses serviços incluem o Serviço de Monitoramento da Atmosfera (CAMS), o Serviço de Monitoramento do Clima (C3S), o Serviço de Monitoramento da Terra (CEMS), o Serviço de Segurança Marítima (CMSS), o Serviço de Gestão de Emergências (EMS), o Serviço de Segurança (CS) e outros. 

Cada serviço fornece informações e dados específicos relacionados a uma área temática particular, ajudando a tomar decisões informadas e apoiar diversas aplicações em diferentes sectores.

Parceiros e Colaboradores

O Programa Copernicus envolve a colaboração de várias instituições e parceiros. Além da Comissão Europeia e da Agência Espacial Europeia (ESA), a mesma conta com a participação de agências espaciais nacionais dos Estados-Membros da União Europeia e de outros países associados, como a Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (EUMETSAT), o Centro Europeu para as Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF), agências da UE e a Mercator Océan.

Qual é o impacto do Programa Copernicus?

O Programa Copernicus é o terceiro maior provedor de dados de satélite do mundo, tendo disponibilizado até hoje mais de 320 petabytes de dados de Observação da Terra e conta com mais de 490.000 usuários registados no seu ecossistema de acesso a dados [2]. A política de dados de acesso livre e gratuito do Programa permite que governos, empresas, instituições académicas e pessoas individuais possam utilizar os dados disponíveis para gerar produtos de valor agregado para os mais diversos sectores, sendo que na europa mais de 66% das empresas de Observação da Terra utilizam dados do Copernicus enquanto 27% das empresas explora os seus serviços.

O impacto económico do programa é estimado em mais de 1 bilião de euros de lucros para a indústria espacial [3], criando cerca de 4000 empregos anuais, sendo que é estimado que os benefícios para os cidadãos europeus e não só possam chegar a 131 biliões de euros em 2035 [4].  

  Qual é a relação entre o Programa Copernicus e África?

O programa Copernicus disponibiliza anualmente aproximadamente 1,2 petabytes de dados de Observação da Terra sobre o continente africano, e as informações disponibilizadas pelos satélites Sentinel-1 e Sentinel-2 podem facilitar a tomada de decisões em toda a África, podendo ser aproveitadas para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU e da Agenda 2063 da União Africana, assim como atender às necessidades de melhor gestão do meio ambiente e garantir uma melhor preparação e gestão de desastres.

Pelas valências destacadas e no âmbito da cooperação entre a Comissão Europeia e a Comissão da União Africana, foi lançado em 2007 o programa Monitoramento Global para Meio Ambiente e Segurança e África (GMES & África). 

O GMES & África tem por objectivo impulsionar o desenvolvimento de recursos institucionais, humanos e técnicos em Observação da Terra em África e, tem sido um instrumento importante para a Política e Estratégia Espacial Africana, alinhada com a Aspiração nº7 da Agenda 2063 da União Africana que visa tornar o continente africano mais actuante nestas matérias e com fortes parcerias globais, tornando África mais forte, unida, resiliente e influente.

A primeira fase do programa GMES & África apoiou 12 consórcios envolvendo 122 instituições em 45 países africanos cujo principal objectivo foi desenvolver aplicações e serviços de Observação da Terra para monitoramento de recursos naturais e hídricos, bem como, o monitoramento de área marinha e costeira usando dados do Programa Copernicus.

No âmbito da primeira fase do GMES & África foram realizadas mais de 100 sessões de formação, tendo permitido capacitar 4932 pessoas entre utilizadores, formadores e administradores. Foram também instaladas 12 estações terrenas que permitem adquirir, processar, visualizar e analisar parâmetros ambientais derivados de satélite [6]. 

O GMES e a África é um excelente exemplo de como os dados do Programa Copernicus podem ser utilizados para a solução de problemas locais em África

Formação de formadores africanos no âmbito do Projecto Copernicus

De forma a aumentar ainda mais a utilização de dados do Programa Copernicus em África, o Grupo de Trabalho África (WG África), no âmbito do Acordo-Quadro Europeu de Parceria sobre a Utilização do Copernicus (FPCUP), promove formações de formadores para a utilização de dados do projecto Copernicus. 

A formação de formadores africanos no âmbito do projecto Copernicus tem como objectivo capacitar especialistas africanos para se tornarem formadores qualificados no uso e aplicação dos dados e serviços do Copernicus. O projecto busca formar 30 formadores em países africanos de língua inglesa, portuguesa e francesa, adaptando o treinamento às necessidades e contextos locais.

Dez especialistas de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe fazem parte do grupo de formandos lusófonos. Angola é representada por três especialistas do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional e dois docentes da Universidade do Namibe.

Os formadores recebem treinamento específico sobre o programa Copernicus, incluindo o acesso e análise de dados, processamento de informações e desenvolvimento de aplicações e serviços com base nesses dados. Eles também são orientados sobre como transmitir esse conhecimento aos outros, fornecendo treinamentos e capacitação para profissionais locais.

O projecto de formação de formadores africanos no âmbito do projecto Copernicus desempenha um papel crucial na capacitação dos profissionais locais, fortalecendo as capacidades técnicas e promovendo o desenvolvimento sustentável no continente africano por meio da aplicação efectiva da Observação da Terra e dos dados do Copernicus.

Reiteramos que o GGPEN já faz uso dos dados disponibilizados pelo Programa Copernicus, e que esta formação agrega valor aos nossos especialistas, no âmbito da docência, massificação, divulgação de produtos e serviços de observação da Terra bem como no âmbito do Programa de Educação Espacial.

Referência

1- https://www.euspa.europa.eu/european-space/copernicus/what-copernicus

2-https://scihub.copernicus.eu/twiki/pub/SciHubWebPortal/AnnualReport2021/COPE-SERCO-RP-22-1312_-_Sentinel_Data_Access_Annual_Report_Y2021_merged_v1.0.pdf

3https://www.copernicus.eu/sites/default/files/documents/Copernicus_Benefits2018_flyer.pdf

4-https://defence-industry-space.ec.europa.eu/system/files/2022-03/Copernicus%20General%20EN.pdf

 5-https://www.geospatialworld.net/article/economic-impact-copernicus/

6-https://www.copernicus.eu/en/news/news/observer-gmes-africa-unlocking-power-eo-data-africa-copernicus

7-https://africanews.space/highlights-of-gmes-and-africas-phase-one/

8-https://ptspace.pt/wp-content/uploads/2023/03/WG-Africa-Call-for-African-Trainers-v1_PT.pdf 

Autores:  

Luciano Lupedia 

Mestre em Ciência e Tecnologia na Especialidade de Telecomunicações, Redes e Multimédia pela Universidade de Ciências e da Tecnologia Houari Boumediene, Argélia.  

Chefe de Departamento do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Soluções Tecnológicas Espaciais 

Gilberto Gomes 

Doutor em Ciências Técnicas, na especialidade de Sistemas, Redes e Dispositivos de Telecomunicações pela Universidade Estatal Vladimir, Rússia. 

Coordenador Nacional da Educação Espacial. 

João Júnior 

Mestre em Serviços e Aplicações Espaciais pela ISAE-SUPAERO, Toulouse, França. 

Especialista Sénior em Aplicações Espaciais.