ANGOSAT-2: GOVERNO QUER FORTALECER INDÚSTRIA ESPACIAL NACIONAL

O investimento em tecnologia espacial será um contributo para a unificação da África e para o desenvolvimento do continente, afirmou o Secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Mário Augusto Oliveira, durante o webinar “ANGOSAT-2: benefícios económicos para a melhoria da vida das populações”.

“Queremos ter uma forte indústria espacial nacional que sirva aos interesses da nossa economia e traga benefícios, não somente para Angola, mas seja uma forma de criar sinergias na nossa região e, não só, para ajudarmos na construção de uma África unida”, disse.

No evento, promovido no âmbito do projecto “Sexta-feira das TICs”, do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), Mário Augusto Oliveira informou ainda que o investimento angolano em tecnologia espacial está muito além da construção de satélites:

“Pode estar a ser visto como ambição desmedida em Angola, mas o tempo tem provado totalmente o contrário. Hoje, temos quadros altamente qualificados que não tínhamos há onze anos, o que tem contribuído para a implementação do Programa Espacial Nacional que é gerido por jovens angolanos”, disse e acrescentou que, actualmente, “Angola possui quadros certificados pela Agência Espacial Europeia, que vem adquirindo prémios em diversas actividades internacionais”.

O Secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Mário Augusto Oliveira, explicou ainda que o Programa Espacial Nacional (PEN) assenta-se em cinco pilares, a saber: o desenvolvimento de infra-estrutura espacial; a capacitação e formação de quadros; o investimento na indústria e tecnologia espacial; o posicionamento geoestratégico nessa indústria e a organização e cooperação.

“Hoje, quando se fala de indústria espacial, não se fala só em telecomunicações. A agricultura, a defesa, o controlo migratório, a concepção das cidades faz-se com recurso às tecnologias espaciais”, expôs.

Para além desses benefícios, o secretário de Estado falou ainda sobre a preocupação do Governo com a difusão das tecnologias de informação, entre as crianças, com projectos direccionados especificamente para este público: “outro ponto é a educação espacial infantil. Temos crianças que já têm tido contacto com informações relacionadas à indústria espacial. Isso é preparar o futuro”.

Literacia digital

Durante a sua apresentação, o Secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação falou ainda sobre o impacto da covid-19 nas economias mundiais e sobre como o investimento em tecnologia digital tem sido determinante para que os países consigam manter as suas operações.

“O novo normal passa pela literacia digital. O digital tem permitido que possamos ter uma vida mais normal possível”, disse e reforçou que Angola só tem “conseguido sobreviver devido tudo o que foi feito até então no capítulo das tecnologias da informação e comunicação”.

Esforço destacado pelo Director Nacional das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Matias Manuel Borges, durante o painel “ANGOSAT-2: benefícios para a melhoria da vida das populações”:

“Os satélites acabam por ser fundamentais para a melhoria dos serviços de comunicação electrónicos, governação, saúde e educação. Todos são serviços que melhorarão a nível nacional com o lançamento do ANGOSAT-2”.

Sete vezes mais rápido

O ANGOSAT-2 será sete vezes mais veloz do que o seu antecessor, informou hoje, o director geral do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), Zolana João, durante o webinar “ANGOSAT-2: benefícios económicos para a melhoria da vida das populações”, organizado pelo MINTTICS.

“O ANGOSAT-1 foi pensado como satélite convencional, com feixe de comunicação amplo, independentemente da localização. Com isso, tínhamos algumas limitações, começando com a largura de banda. Este será sete vezes mais rápido, com altas taxas de transmissão e podemos transmitir inteligentemente em feixes menores e para regiões determinadas”, explicou.

Com isso, pretende-se minimizar a problemática da divisão digital, ou seja permitir o acesso, de forma igualitária, a todos os angolanos, aos benefícios oferecidos pelas Tecnologias da Informação e a Comunicação (TIC).

De recordar que o continente africano possui 526,7 milhões de pessoas. Contudo, apenas 39,3% desses, possuem acesso à Internet. Com 32 satélites lançados actualmente, o director Zolana João lembrou que 60% desses são experimentais, de pequeno porte, “enviados ao espaço para fazer capacitação dos quadros. Apenas 40% são de grande porte como o ANGOSAT-2”, que encontra-se, neste momento, em fase de montagem de componentes com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2022.

“2020 foi um dos anos mais complicados para a indústria espacial. Tivemos que reinventar para garantir que o nosso satélite fosse entregue num tempo útil. Continuamos a identificar riscos, tentamos ser cautelosos e estamos a 17 meses do lançamento do ANGOSAT-2”, adiantou.

Para operacionalizar o satélite, o GGPEN conta com uma equipa formada por setenta integrantes, dos quais vinte são mestres e quatro doutores, que actuam no Centro de Controlo e Missão de Satélites (MCC), na Funda, em Luanda.

“Para além dos técnicos certificados, formamos um grupo de engenheiros que merece algum destaque. Dois engenheiros estiveram entre os dez melhores da indústria espacial africana e um outro foi escolhido para participar em um programa de formação de drones”, informou.

Projecção internacional

Angola é membro do Comité de Peritos em Satélite da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), sediando, inclusive, o Escritório de Gerenciamento de Projectos (PMO), que está responsável pelo estudo de viabilidade do satélite compartilhado da SADC. Tal participação foi um dos destaques colocados pelo director Zolana João, que falou ainda sobre o compromisso do Governo em cumprir com as agendas internacionais:

“A Agenda 2030, constituída pelos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Agenda 2063 da União Africana orientam que a formação deve ser a base, por isso estamos a investir na formação de quadros, tendo já formados 45 especialistas nas diversas áreas espaciais”.

Ainda dentro do Programa Espacial Nacional, Zolana João informou que o GGPEN desenvolveu um programa que tem auxiliado a Administração do Talatona a conter ocupações ilegais de terrenos.

“Desenvolvemos uma ferramenta para mapear como esse crescimento tem sido feito e pode ser replicado para controlo das fronteiras, para uso das forças armadas, dentre outros”, adiantou.

Com tal exemplo, os participantes do webinar demonstraram a importância de Angola investir não apenas em satélites de comunicação, como o caso do ANGOSAT-2, mas também em satélites de Observação da Terra, próximo a ser lançado pelo Governo angolano.

“No caso particular do nosso país que é vasto, com populações muito dispersas, o satélite tem uma função muito importante, nas telecomunicações, na agricultura, na exploração de petróleos, dentre outras. Por isso, decidimos avançar com este programa e dentro de muito pouco tempo os resultados estarão visíveis para todos”, garantiu, o Secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Mário Augusto Oliveira.

Transmitido pelas plataformas digitais do Centro de Imprensa Aníbal de Melo (CIAM), o webinar “ANGOSAT-2: benefícios económicos para a melhoria da vida das populações” teve como objectivo partilhar a evolução actual do projecto, os desafios, as oportunidades e os benefícios do Programa Espacial Nacional para a melhoria das vidas das populações.

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