
Impacto do Programa Espacial Nacional na economia angolana
Como o Programa Espacial Nacional contribui para a economia angolana? Foi uma boa medida? Estas e muitas outras questões serão esmiuçadas neste artigo.
Consciente dos desafios que o nosso país enfrentava no período pós conflito armado, o Estado Angolano percebeu que diante da paz alcançada, para desenvolvermos, seria necessário reflectir sobre os pontos fortes que alavancariam e acelerariam o crescimento económico, que fortalecesse a soberania nacional e o bem-estar da nossa população.
Desta feita, após várias décadas de estudos no sector das telecomunicações, foi então assinado, em 2009, com a Federação Russa, o projecto Angosat, aquando da visita do Ex. Presidente Russo Dmitri Medevdev, dando origem à comissão interministerial, para a coordenação do projecto Angosat e o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional, institucionalizado em 2013, para a execução das acções do projecto.
O Programa Espacial Nacional (PEN)
Concebida como parte vital do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) e alinhado aos objectivos sustentáveis das Nações Unidas, a Estratégia Espacial Nacional 2016 – 2025, se assenta em 5 eixos fundamentais, que norteiam as acções a saber: eixo 1: Infraestrutura espacial, eixo 2: capacitação e promoção, eixo 3: indústria e tecnologia, eixo 4: posicionamento internacional e eixo 5 cooperação e organização.
Em infraestrutura espacial, o Estado Angolano construiu dois satélites, Angosat um e dois, sendo o Angosat-2 em pleno funcionamento, controlado a partir do nosso Centro de Missão e Controlo MCC (construído de raiz), por técnicos angolanos altamente qualificados, formados e certificados pelas grandes potências espaciais do mundo.
Na indústria e tecnologia, o GGPEN desenvolveu fortemente o Programa de Observação da Terra, construindo ferramentas que fazem uso de imagens de satélite e inteligência artificial para o monitoramento de diversos sectores económicos, tais como: cultivo e estimação de produtividade agrícola, mineração, activos urbanísticos, derrames de petróleo na costa Angolana.
O Impacto do Programa Espacial na Economia Angolana
Com a comercialização das capacidades do Angosat-2, desde Fevereiro de 2022, o GGPEN, alcançou já 80% de toda a capacidade da banda C comercializada, sendo 10% em projecto social “Conecta Angola” e reservas estratégicas do estado. Estas percentagens, incluindo as capacidades da banda Ku, culminou com a instalação de mais de 200 terminais via satélite VSAT (Terminal de Abertura muito Pequena, em português) em todo território nacional. Mencionamos que com este feito, o GGPEN contribui com receitas nas contas do Estado, evita a saída de divisas no sector e reduz a dependência com satélites estrangeiros.
Outro grande ganho é o crescimento da conectividade em regiões remotas, através do projecto Conecta Angola, de carácter social, com as instalações de mais de 22 pontos em comunas, de 15 províncias, destacando Belo Horizonte, Canzar, Sombo, Jamba Cueio, Dirico, Likuwa, Muangai, Marimba, Gruta do Zenzo, impactando mais de 320 mil pessoas nas zonas recônditas. Isso resulta em serviços mais acessíveis e promovendo a inclusão digital e conectando regiões que desde a independência nunca teve comunicação.
No âmbito do Programa de Observação da Terra, o GGPEN em cooperação com o Instituto Norte-Americano de tecnologia de Massachusetts MIT (MIT – Massachusetts Institute of Technology), desenvolve com o GGPEN uma plataforma que monitora o fenómeno da seca no sul de Angola, ajudando na tomada de decisão, financiado pela NASA.
O GGPEN contribui para o monitoramento ambiental na costa Angolana através de imagens de satélite. Só do período de 2023 a 2024, 89 manchas foram analisadas, onde 31 foram identificadas como possíveis derrames de petróleos através da plataforma Tech-Ecologia e reportados ao órgão competente.
As contribuições transcendem o sector ambiental e petrolífero, alcançando outros sectores do tecido económico nomeadamente o sector mineiro, o sector agrícola e das finanças, onde neste último, a identificação de residências a partir do espaço contribui para a estimativa de arrecadação do imposto predial urbano.
Apesar das crises financeiras que enfrentamos, Angola vem crescendo tecnologicamente, impulsionando os sectores mais económicos do nosso país com a contribuição de todos os participantes estatais e privados, cooperando com as maiores potências espaciais do mundo, para o engrandecimento da instituição e para a materialização do PEN.
Autor
Hugo do Nascimento
Assessor de Marketing e Vendas
Departamento de mercados e serviços.
Mestre em aplicações e serviços espaciais pelo instituto ISAE-SUPAERO de frança Mestre em sistemas de telecomunicações e multicanais pela universidade RSREU da Rússia.