A Nova Economia Espacial

O que é a nova economia espacial? Porquê abordamos sobre este tema? Como a inovação tecnológica e o surgimento de startups transformaram a indústria espacial, tornando-a mais acessível e comercialmente viável? De que forma a entrada de empreendedores e empresas privadas na órbita terrestre baixa está contribuindo para a sustentabilidade e diversificação das actividades espaciais?  Perguntas como estas, serão abordadas neste artigo.

A ERA GOVERNAMENTAL

O início da era espacial foi marcado pela emblemática Corrida Espacial — uma intensa competição travada entre duas superpotências ao longo de toda a Guerra Fria. Essas nações, que polarizaram o mundo em diversos domínios, estenderam sua rivalidade até os confins da tecnologia espacial. Entretanto, essa disputa não foi só motivada por interesses econômicos imediatos. Pelo contrário, visava a conquista de vantagens estratégicas, a firmação da soberania nacional e o fortalecimento do prestígio internacional. 

No entanto, mais do que uma corrida por supremacia, tratava-se de um impulso decisivo para o avanço científico, tecnológico e geopolítico da humanidade.[1]

Após o lançamento pioneiro do primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 4 de outubro de 1957, e, posteriormente, do Explorer-1, no ano seguinte, a humanidade deu início a uma nova era de exploração espacial. A partir de então, o homem passou a colocar em órbita não apenas satélites ao redor da Terra, mas também ao redor de outros planetas do sistema solar. Entretanto, os avanços não se limitaram a isso: telescópios espaciais, sondas interplanetárias e robôs exploradores foram enviados a diversos corpos celestes, ampliando de forma extraordinária o nosso conhecimento sobre o universo.[2]

Todo o investimento que sustentou os primeiros programas espaciais foi inteiramente financiado pelos Estados. Naquela época, a iniciativa privada praticamente não participava dessas ambiciosas empreitadas. Um exemplo extraordinário é o Projeto Apollo 11, que levou o homem à Lua em 1969. A missão teve um custo superior a 25 bilhões de dólares naquele período — o que corresponderia a aproximadamente 165 bilhões de dólares em valores ajustados à inflação de 2021. Entretanto, mais do que um esforço financeiro, tratou-se de um compromisso estratégico que refletia a magnitude da corrida espacial e o desejo de firmação geopolítica das nações envolvidas. [3]. 

A NASA gastou em média nos últimos 15 anos 25.415 bilhões de dólares por ano[4], já a Roscosmos, nos últimos 14 anos, gastou em média  3.559 bilhões de dólares por ano[5]

PARTICIPAÇÃO DO SECTOR PRIVADO

A actividade espacial tem-se tornado progressivamente mais acessível e menos dispendiosa, à medida que o crescimento tecnológico avança e a indústria se reinventa. Em diversas frentes — desde a investigação, fabrico até à exploração e à prestação de serviços (downstream) — surgem cada vez mais iniciativas provenientes do sector privado. Não obstante, esse movimento não é meramente simbólico, ele reflete uma transformação estrutural no ecossistema espacial. 

Com a entrada de grandes empreendedores no setor, a democratização e a comercialização da actividade espacial cresceram de forma exponencial, especialmente na órbita terrestre baixa (LEO — Low Earth Orbit). Nesse novo cenário, empresas emergentes e parcerias público-privadas passaram a liderar iniciativas que antes eram exclusivas de governos. 

O investimento privado, que é considerado como um barómetro da saúde da indústria, diminuiu pelo terceiro ano consecutivo, isto porque alguns projectos já têm resultados como no caso da Starlink. Depois de atingir 18 bilhões de dólares em 2021, o financiamento caiu para 8 bilhões de dólares em 2023 e caiu ainda mais para 5,9 bilhões de dólares em 2024. Tais números evidenciam o interesse comercial por este sector outrora reservado exclusivamente aos Estados [6].

Actualmente, atividades como o transporte de carga, os lançamentos com tecnologias reutilizáveis e pequenos satélites, as aplicações de observação da Terra (espaço-Terra), a localização de navios e aeronaves, bem como o turismo espacial, são conduzidas maioritariamente por startups, consórcios inovadores e parcerias público privadas. Entretanto, esse dinamismo não apenas impulsiona a economia espacial, como também contribui significativamente para a sustentabilidade da civilização neste sector.

Em Angola, o GGPEN (Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional) tem desempenhado um papel fundamental na promoção da participação do sector privado e de startups no domínio espacial, impulsionando o desenvolvimento tecnológico e contribuindo para a diversificação da economia nacional. Com a projeção crescente da nossa agência espacial no cenário internacional, torna-se crucial o envolvimento ativo e estratégico de atores nacionais neste setor em expansão.

Referências

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Corrida_espacial
  2. Satélite e suas aplicações, Teresa Gallotti Florenzano. São Paulo: sinfct, 2008
  3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Programa_Apollo
  4. https://en.wikipedia.org/wiki/Budget_of_NASA
  5. https://www.fpri.org/article/2024/07/russias-space-program-after-2024/
  6. https://nova.space/in-the-loop/highlights-of-the-2024-space-economy/

Hugo do Nascimento
Assessor de Marketing e Vendas
Departamento de Mercados e Serviços
Mestre em Aplicações e Serviços Espaciais pelo instituto ISAE-SUPAERO de França
Mestre em Sistemas de Telecomunicações e Multicanais pela Universidade RSREU da Rússia.