Importância dos minifoguetes no desenvolvimento da indústria espacial

No mundo de hoje, ter um satélite operacional no espaço não é uma questão de luxo, mas sim é uma necessidade estratégica que responde aos desafios de desenvolvimento económico e de segurança nacional. Quando se tem um sistema de lançamento, caminha-se para o alcance de autonomia e independência de vários processos de desenvolvimento, fabricação e exploração no sector espacial. É de realçar que o sistema espacial é constituído por três segmentos: Espacial (satélite), Terrestre (centro de controlo e estação terrena) e Lançamento (veículo de lançamento e local de lançamento).

Os minifoguetes enquadram-se no segmento de lançamento. Para se chegar ao espaço é necessário um meio de transporte, que no caso é o veículo de lançamento.

A história narra que não é claro quando apareceram os primeiros foguetes. Histórias de dispositivos semelhantes com foguetes aparecem esporadicamente por meio de registros históricos de várias culturas. No primeiro século d.C., os chineses tinham uma forma simples de pólvora feita de salitre, enxofre e pó de carvão. A data relatando o primeiro uso de foguetes foi em 1232. O foguete se torna uma ciência durante a última parte do século XVII, quando o Isaac Newton  (1642-1727) lançou as bases científicas para os foguetes modernos, baseando-se nas três leis de movimento. As três leis explicam como os foguetes funcionam e por que são capazes de funcionar no vácuo do espaço sideral.

Em 1898, começa a era de foguetes modernos com o professor russo, Konstantin Tsiolkovsky  (1857-1935), propondo a ideia da exploração espacial por foguete. Segundo Tsiolkovsky, a velocidade e o alcance de um foguete eram limitados apenas pela velocidade de exaustão dos gases que escapavam. No início do século XX, o americano, Robert H. Goddard (1882-1945), conduziu experimentos práticos em foguetes. Ele interessou-se por uma maneira de alcançar grandes altitudes do que os balões mais leves que o ar (ex.: balões de hélio). Finalmente, aos 4 de Outubro de 1957, a União Soviética (URSS) coloca um satélite artificial em órbita terrestre, chamado de Sputnik I. [1]

Não haveria espaço suficiente neste artigo para narrar alguns dos grandes acontecimentos da história dos foguetes. Mas isso é para lembrar que tudo começou em modelos pequenos. Isso realça a importância dos minifoguetes para o desenvolvimento da indústria espacial.

Um minifoguete é ​​um lançador espacial capaz de colocar uma carga útil de massa inferior a duas toneladas em órbita terrestre baixa. Às vezes, um lançador capaz de colocar uma carga útil de menos de 500 kg é chamado de microlançador [2]. Enquanto que os microfoguetes, são foguetes experimentais em miniatura que fornecem uma introdução segura aos parâmetros que governam o vôo de um foguete. Eles são propulsionados por um propelente a pó de baixa potência, portanto, classificados na classe “micromotor”. Os microfoguetes podem subir até uma altitude que varia de 100 à 500 m antes de descer ao solo com ou sem paraquedas, deste modo, com total segurança, diferentes modelos de foguetes podem ser testados para compreender, por meio da prática, as leis da aerodinâmica [3].

Os minifoguetes são desenvolvidos com o objectivo de lançar pequenos satélites a preço drasticamente reduzido e maior taxa de lançamento em comparação com os foguetes de maior tamanho. O custo de desenvolvimento de um minifoguete também é baixo, por exemplo, o custo de fabricação do Small Satellite Launch Vehicle (SSLV) varia entre US $ 4.2 milhões a US $ 4.9 milhões e o custo de desenvolvimento é de US $ 17 milhões, e o custo por lançamento é de US $ 4.2 milhões. O SSLV é desenvolvido pela Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO) com capacidade de colocar uma carga útil de 500 kg em órbita baixa da Terra (500 km) ou 300 kg para a órbita síncrona do Sol [4].

O desenvolvimento dos minifoguetes tem grande importância também no estreitamento das relações entre os estados, tendo em conta o novo paradigma do sector espacial com a inserção de novos actores com recursos espaciais.

Cabe aqui realçar que é para fins pacíficos que foi mencionado o quão importante são os minifoguetes no desenvolvimento da indústria espacial. As actividades desenvolvidas ou a serem desenvolvidas no âmbito de desenho, manufacturação e exploração de minifoguetes, devem estar de acordo com o Tratado sobre os Princípios que Regem as Actividades dos Estados na Exploração e Utilização do Espaço Exterior, Incluindo a Lua e Outros Corpos Celestes, tratado este que foi celebrado em 27 de Janeiro de 1967. Esse acordo vem regular as actividades dos Estados, devido ao facto de serem os responsáveis pelas actividades espaciais nacionais públicas e privadas e, para isso, devem não só autorizar tais actividades como exercer vigilância contínua sobre elas [5].

Tendo em conta, as novas tendências do mercado dos lançadores é imprescindível tornar mais atractivo a utilização dos minifoguetes para atender os novos desafios da área espacial, deste modo, é necessário canalizar mais investimentos no domínio dos minifoguetes e criar mais empresas com sucesso no sector. Para que essas empresas tenham sucesso, elas devem seguir os bons conceitos praticados no sector e não só. Dentre as várias empresas do sector como exemplo de sucesso, podemos citar a Northrop Grumman e a SpaceX, empresas de capital privado que obtiveram receitas significativas em 2018 (SpaceX) e no primeiro semestre de 2021 (Northrop Grumman). A SpaceX teve em 2018 uma receita de US $ 2 bilhões [6]. O relatório dos resultados financeiros do segundo trimestre de 2021 da Northrop Grumman indicam um volume de vendas de US $ 18.308 bilhões e as receitas líquidas são de US $ 3.2 bilhões. O Sistema Espacial contribuiu no volume de vendas com US $ 5.269, ou seja, aproximadamente 28.7% [7]. De acordo com um relatório publicado no dia 14 de Julho de 2021 pela empresa Space Capital, de Nova York, no segundo trimestre de 2021, o investimento privado em empresas espaciais atingiu o valor de US $ 4.5 bilhões, um recorde para o sector, podendo bater o recorde anual anterior de US $ 9.1 bilhões arrecadados em 2020 [8].

Portanto, o sector privado joga e deve jogar um papel importante para o desenvolvimento da indústria espacial e criar políticas que impulsionem a pesquisa e desenvolvimento, desenho, produção e comercialização dos minifoguetes. Tendo em conta que, a entrada de novos players, sobretudo os da esfera privada no sector espacial, possibilita a democratização do espaço, que há décadas é de difícil acesso, isso, devido aos altos custos.

Os minifoguetes ajudam na competitividade, inovação, capacitação do tecido industrial e contribuem no desenvolvimento de aplicações espaciais, tendo em conta que permite capacitar o sector da defesa e de segurança do Estado com meios tecnológicos modernos para o uso na prevenção e combate de diversos crimes, sinistralidades, monitoramento e protecção de fronteiras, assegurar a autonomia e soberania, entre outros.

Para os países com poucos recursos financeiros não é uma tarefa fácil autofinanciar os seus programas de desenvolvimento e fabricação dos seus minifoguetes. Uma forma de inverter esse quadro é participar em programas internacionais pautando pelo interesse mútuo e de acordo de partilha de benefícios, a fim de arrecadar recursos financeiros externos. Algumas Organizações Internacionais que têm ajudado neste âmbito, dentre elas temos, a União Internacional de Telecomunicações (UIT) que é a agência das Nações Unidas voltada ao sector de telecomunicações, dela são desempenhados registro de posições orbitais para satélites geoestacionários, o Comitê das Nações Unidas para Usos Pacíficos do Espaço Exterior (COPUOS) é um dos principais fóruns internacionais de discussão da área espacial e a Federação Internacional de Astronáutica (FAI), que possui o objectivo de promover o avanço da área espacial e estimular o desenvolvimento e a aplicação de recursos espaciais para o benefício da humanidade [5].

As dificuldades no desenvolvimento de minifoguetes têm sido de várias ordens, algumas das quais passamos a citar: falta de técnicos qualificados, escassos recursos, restrições internacionais e tecnológicas.

Um dos motivos que inibe o desenvolvimento da indústria dos minifoguetes é a dificuldade de aquisição relacionada aos altos custos dos equipamentos e o facto de não se pode fabricar internamente no país, pela falta de tecnologia necessária.

É importante que os Estados criem mecanismos de incentivo através de investimentos contínuos e objectivos para alavancar o tecido industrial das empresas dedicadas para o desenvolvimento e fabrico de componentes para minifoguetes e de outros produtos do sector espacial, a fim de criar melhores condições para o desenvolvimento e crescimento da indústria espacial, porque a utilização da tecnologia espacial é uma mais-valia para fins comerciais, capacitação e formação dos recursos humanos para o sector espacial e sectores anexos e para o desenvolvimento e sustentabilidade industrial.

REFERÊNCIAS:

[1]https://www.grc.nasa.gov/www/k-12/TRC/Rockets/history_of_rockets.html#:~:text=The%20date%20reporting%20the%20first,of%20a%20solid%2Dpropellant%20rocket. (consultado online dia 20/07/2021);

[2] https://fr.wikipedia.org/wiki/Lanceur_l%C3%A9ger (consultado online dia 14/07/2021);

[3] https://fr.wikipedia.org/wiki/Micro-fus%C3%A9e (consultado online dia 14/07/2021);

[4] https://en.wikipedia.org/wiki/Small_Satellite_Launch_Vehicle (consultado online dia 14/07/2021);

 [5] DAL – BERTO, Vanessa Redel. A importância do programa espacial brasileiro e os impactos para a Defesa Nacional no século XXI. Faculdade de Negócios do Centro Universitário Ritter dos Reis. Porto Alegre. 2018;

 [6] https://en.wikipedia.org/wiki/SpaceX (consultado online dia 14/07/2021);

[7] Northrop Grumman Reports Second Quarter 2021 Financial Results. (2021,pp.8, 15 e 16).https://investor.northropgrumman.com/static-files/a88594a4-ef78-462f-9cf5-b72e44ec3db6 (consultado online dia 02/08/2021);

[8] https://www.cnbc.com/2021/07/14/space-capital-q2-report-shows-record-4point5-billion-invested.html (consultado online dia 02/08/2021).

AUTOR:

Custódio Diengue Abílio

Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial e Licenciado em Mecânica pela Universidade Hassan 1, Marrocos.

Especialista da Área de Suporte e Navegação Balística do Centro de Controlo e Missão de Satélites.