O quotidiano do analista de subsistemas de satélite

RESUMO

O sucesso de uma missão espacial não depende apenas do projecto, do segmento espacial, tão pouco do lançamento resultante de instalações altamente equipadas, depende de um segmento terrestre e das operações de missões bem-sucedidas, realizadas por uma equipa de especialistas que utilizam as infra-estruturas e os processos da missão para atingir o sucesso.

O design, organização, bem como a montagem, integração, teste, verificação e validação dos equipamentos são, portanto, tão importantes quanto às respectivas actividades do segmento espacial e o lançamento, por isso é importante que o membro desta equipa zela pelo primor no rigor e na aquisição de conhecimentos. Ao operador/controlador de satélite que desemprenha a função de analisar os subsistemas do satélite através de um monitoramento remoto a fim de obter informações sobre o seu estado é chamado de especialista para análise dos subsistemas. O analista prepara a sequência de comandos para o satélite, carrega e verifica sua execução. Se alguma anomalia for detectada, o Gestor da Equipa, o Director de Voo são alertados, e os especialistas para análise do subsistema que normalmente estão no turno para esse fim, dão sequência ao procedimento operacional para mitigação da anomalia. Todos os subsistemas do satélite são geralmente a área de domínio dos analistas desta forma, é possível garantir que a equipa tenha experiência suficiente e a mão de obra exigida, para decidir em situações críticas, onde um desvio dos processos padrão é necessário.

Neste artigo abordaremos sobre o quotidiano do analista de subsistemas e como o especialista desta área desempenha as suas tarefas desde a fase de lançamento, até a fase nominal ou caso ocorra uma situação anômala, durante a vida útil do satélite até a colocação na orbita de refugo.

Palavras-chaves: Analista de subsistemas, análise, satélite, MCC.

INTRODUÇÃO

As tarefas diárias de um analista de subsistemas do satélite podem variar se este estiver a trabalhar em um satélite que ainda não foi lançado ou a trabalhar com a sua equipa para alavancar as capacidades de um satélite em órbita geoestacionária. O especialista para análise de subsistemas controla o satélite para garantir que este permaneça saudável ​​e estacionário. Assim sendo o especialista para análise de subsistemas trabalha em regime de turno, onde o operador do turno anterior informa o operador do turno seguinte sobre a situação mais recente do satélite e da estação terrena utilizada para o controlo.

Posteriormente, é feita uma verificação no software de trabalho da equipa de análise para garantir que todos os alarmes sejam contabilizados e desempenham a sua função nominalmente, assegurar também que o plano de implementação do programa de voo esteja a ser cumprido na integra e que a programação do dia corresponde ao cronograma de tarefas descrito no plano diário de actividades, disponibilizado pelo especialista para o planeamento de voo ao especialista para análise de subsistemas. Devido ao alto nível de automação do satélite (o que significa que em alguns momentos o satélite não é operado manualmente) e o conjunto de equipamentos na reserva, não é exigido muitos operadores no turno, pois sua autonomia permite o satélite realizar tarefas, executadas pelos algoritimos do computador a bordo do satélite.

Uma das funções dos analistas de subsistema é monitorar o consumo de propelente (combustível) de xenônio e a hidrazina, já que, muitas vezes a missão não é encerrada porque a carga útil parou de funcionar bem, mas por esgotamento prematuro do propelente, o que reduz a vida útil do satélite e leva ao encerramento da missão. Por isso essa gestão é feita com o máximo de responsabilidade da parte dos especialistas e as demais equipas que trabalham num Centro de Controlo de Satélite (SCC- do inglês Satellite Control Centre).

Embora os detritos sejam uma preocupação crescente para a indústria espacial, ao fim da missão os especialistas para análise dos subsistemas a bordo do satélite são uma vez mais obrigados a deixar órbitas úteis (GEO – órbita geoestacionária) e colocar a sua propriedade em órbitas de cemitério, processo este chamado de de-órbita.

O QUOTIDIANO DO ANALISTA DE SUBSISTEMAS A BORDO DO SATÉLITE

Para ser um especialista para análise de subsistemas de sucesso o candidato precisa ter um perfil específico para engenheiro operador de satélite. Esse perfil exige conhecimentos gerais ou especializados sobre os seguintes componentes do satélite, o Sistema de Controlo, Dinâmica e Atitude (ADCS- do inglês Attitude Dynamic Control System), propulsão, processamento de dados, Sistema de Controlo Térmico (TCS – do inglês Thermal Control System), Mecanismos, Sistema de Alimentação Eléctrica (EPS – do inglês Electrical Power System), Sistema de Controlo de Bordo (OCS- do inglês Onboard Control System), Carga Útil, e alguns conceitos de dinâmica de voo e mecânica orbital.

Normalmente o turno do especialista para análise de subsistemas tem 12 horas, onde por cada turno trabalham três especialistas alguns escalados para o turno diurno e outros para o turno noturno. O alto grau de autonomia do satélite, a sua capacidade de armazenamento de dados a bordo e a geometria orbital favorável podem combinar na flexibilidade do trabalho no turno. Um satélite em órbita baixa requer contactos breves a cada 90 minutos o que tende a exceder o tempo de operação no turno, enquanto um satélite comunicação em órbita geoestacionária exige longos períodos de contactos e o que facilita na programação das actividades de um dia normal de trabalho. No princípio de cada turno acontece à troca de informações sobre as situações relevantes ocorridas no turno anterior descritas em detalhe no livro de recomendações. Neste livro de recomendações são descritos com detalhes e exactidão tudo o que aconteceu de relevante ou anormal durante o turno, depois do contacto com o livro de registro de recomendações, o especialista para análise de subsistemas, pode dar início ao seu trabalho com o anúncio da prontidão para o trabalho aos demais especialistas do Centro de Controlo de Satélites.

Devido a sua capacidade de liderar discussões em grupo com eficácia, a sua capacidade de definir prioridades, emitir relatórios e delegar tarefas conforme necessário para cumprir os objectivos da missão, o especialista para análise de subsistemas auxília as distintas equipas do Centro de Controle de Satélite com as recomendações em caso de ocorrência de situações anómalas de acordo com as respostas automáticas do satélite para recuperação das mesmas e instruções para controlo em situações especiais como eclipse e fase de lançamento e início de operação em órbita (LEOP – do inglês Launch and Early Orbit Phase). Diante dessas situações anómalas o especialista de análise de subsistemas deve classificar o tipo de falha com base na documentação operacional, e lembrar que a regra fundamental na resolução de anomalias é que não importa quão complexa for, tem apenas uma causa.

Ao encerrar seu turno, o especialista para análise de subsistemas preenche o livro de registro e recomendações de acordo com requesitos da documentação operacional. 

Autor: Congolo Sebastião

Especialista de Análise do Centro de Controlo e Missão de Satélites;

Especialista em Engenharia de Sistema de em Multicanais, pela Universidade de Engenharia de Rádio do Estado de Ryazan, Rússia.